quinta-feira, 3 de março de 2011

Sem licenças, Brasil deixa de exportar máquinas agrícolas para Argentina

O governo da Argentina suspendeu a emissão de licenças para importação de máquinas agrícolas brasileiras. A medida não é oficial, mas as montadoras que abastecem o mercado da América Latina com a produção feita em fábricas instaladas no Brasil, informam que desde janeiro não conseguem embarcar as máquinas por não conseguirem o documento, que é emitido pelo governo do país vizinho.

Segundo a Associação Nacional das Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), as indústrias estimam que cerca de 800 máquinas, entre colheitadeiras e tratores, estejam paradas nos pátios, aguardando as licenças para serem embarcadas. “E isso acontece em um período de venda de colheitadeiras no mercado argentino”, diz Milton Rego, vice-presidente da Anfavea.

A estratégia do país vizinho é tentar reverter uma situação de déficit em sua balança comercial do setor. No começo do mês, as empresas se reuniram com representantes do governo argentino que, nas entrelinhas, deixaram claro que as licenças só voltam a ser emitidas quando cada uma das montadoras apresentar um plano para elevar a produção local com foco nas exportações, buscando assim um superávit.

Além do superávit, o governo tenta desenvolver sua produção doméstica de equipamentos para agricultura. Terceiro maior exportador de soja do mundo, a Argentina tem forte dependência de máquinas vindas exatamente do Brasil. Pelos cálculos da Anfavea entre 80% e 85% das vendas realizadas no país são de produtos importados das empresas instaladas em território brasileiro.

Com a decisão argentina, a expectativa da indústria brasileira é que a produção doméstica seja reduzida em proporção igual ao peso que o país tem nas vendas externas. No ano passado, a produção brasileira cresceu 34% para 88,7 mil unidades. Desse total, 68,5 mil foram vendidas no mercado interno, com crescimento de 23,8%. Para as exportações foram destinadas 18,7 mil unidades no ano passado, com aumento de 26,5%. Desse total, a Argentina foi o destino de 30% de tudo aquilo que o Brasil embarcou.

Há quase dois anos as empresas vinham exportando para a Argentina por meio de licenças não automáticas. Pelo sistema, o governo levava até 60 dias para emitir os papéis. Apesar do prazo estar dentro do que sugere a Organização Mundial do Comércio (OMC), o acordo automobilístico firmado entre os países do Mercosul prevê que para esse tipo de máquinas as licenças sejam automáticas.

“Já estávamos trabalhando dentro de uma exceção, mas agora a situação ficou muito pior. Se isso acontecesse na Venezuela a surpresa seria menor, mas nem o mais pessimista poderia esperar isso da Argentina”, afirma Rego.

Sem condição de embarcar as máquinas, os três principais grupos do mundo – CNH, com as marcas Case e New Holland, John Deere e AGCO, controlador da Massey Ferguson e Valtra – vivem uma situação, no mínimo, curiosa. A partir de amanhã, começa na Argentina a Expoagro, uma das maiores feiras agrícolas do país. Entre os principais expositores, as montadoras estão sendo obrigadas a pedir máquinas de clientes emprestadas para poder ocupar os espaços dos estandes montados na feira.


Fonte: Valor Econômico

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Freitas Inteligência Aduaneira