quarta-feira, 23 de março de 2011

Informação faz a diferença nos negócios internacionais

O produto final de uma operação de comércio exterior é ter de um lado o comprador satisfeito por receber a mercadoria nos padrões estabelecidos e no prazo combinado e de outro o vendedor feliz por conquistar o cliente e receber o valor pela venda. Qualquer fator que ponha em risco essa "simples" relação precisa ser antecipadamente detectado a fim de se adotar garantias para o sucesso da negociação.

Além de conhecer a legislação aplicável ao comércio exterior, tem igual importância saber os riscos comerciais, políticos, extraordinários e técnicos, para que os contratos de compra e venda possam ser amparados por instrumentos de pagamento ou de garantia.

Embora sem registro de que o cenário político do norte da África e do Oriente Médio tenha interferido no fluxo de comércio, não é possível afirmar se a instabilidade é passageira ou se o desfecho terá maiores implicações. "Ninguém pode prever o que vai ocorrer na região. Pode não ser uma tempestade, mas uma turbulência", avalia o especialista em câmbio e pagamentos internacionais, Angelo L. Lunardi.

De acordo com o especialista, em termos de importação os riscos são menores porque, à exceção do petróleo, quase não há importações da região. Já na exportação o caso é mais complexo, uma vez que o Brasil é fornecedor de commodities e alimentos. Lunardi lembra que em uma situação normal já há o risco comercial, ou seja, pode haver falta de capacidade de pagamento do comprador, sem falar na questão da idoneidade. Porém, o risco político no caso do norte da África é quase 100%. "Eu costumo, quando o assunto é risco político, falar em geografia do risco. No caso do continente africano temos a divisão África do Sul e demais países e nesse segundo grupo todos de alto risco, seja por fatores econômicos ou efetivamente políticos", considera.

De acordo com o especialista, pouca gente sabe que Angola vive quase duas décadas de ditadura. As atenções se concentram no norte da África e Oriente Médio, mas "existem movimentos em Angola e curiosamente o Brasil tem grande concentração de negócios por lá", afirma.

Para o gerente do FBI Aduaneiras - Foreign Business Information, Marcos Sanroman, por enquanto o risco é político, mas se a atual onda de protestos se espalhar por outros países da região poderá haver uma crise econômica que leva a outros tipos de risco. O executivo avalia que neste momento a preocupação recai sobre as empresas brasileiras que têm sociedade com estatais, visto que os regimes atuais podem ser substituídos por outros que poderão mudar as regras dos contratos em vigor.

De acordo com o presidente da Coface no Brasil, Joel Paillot, no âmbito internacional ainda não há registros de atrasos no pagamento de operações com Tunísia, Egito e outros países em conflitos. Porém, o executivo da multinacional de seguro de crédito adverte que além da crise política o mundo ainda vive os efeitos da crise econômica iniciada em 2008, que permanece com intensidade em países da Europa.

Alternativas

Para garantir as operações existem diversos instrumentos disponíveis no mercado. Entre as opções, a melhor para quem exporta é negociar com pagamento antecipado. "É um negócio ótimo para o vendedor, pois elimina o seu risco e ainda financia a sua produção, mas é péssimo para o comprador", compara Lunardi. No geral, a operação inclui alto risco, pois quem importa manda o pagamento para o fornecedor antecipadamente, que pode não embarcar a mercadoria e ainda não efetuar a devolução do dinheiro, com o agravante de que se a mercadoria não chegar o valor deve ser repatriado para não sugerir evasão de divisas.
Outra opção é o Seguro de Crédito à Exportação (SCE), que tem a finalidade de garantir as operações contra os riscos comerciais, políticos e extraordinários que possam afetar a produção de bens e a prestação de serviços destinados à exportação, bem como as exportações brasileiras de bens e serviços, sugere Sanroman.

Por meio da Seguradora Brasileira de Crédito à Exportação (SBCE), a Coface oferece o seguro de crédito à exportação, que inclui prevenção, pela análise e monitoramento da situação financeira dos importadores, cobrança, indenização e garantia para financiamentos.
Paillot explica que o seguro pode ser contratado para assegurar uma carteira de clientes ou uma única operação, situação que é mais comum no caso de aquisições de máquinas e equipamentos. Entretanto, no Brasil, a modalidade não é demandada no mesmo nível da Europa, embora a curiosidade pelo serviço registre números crescentes.

Além de considerar o seguro de crédito à exportação ainda incipiente no País, Lunardi lembra que ele não dá 100% de cobertura - limita-se a 90% do crédito segurado e não pago - e não tem liquidez imediata como é o caso da garantia bancária e da carta de crédito.

At first demand

De acordo com Lunardi, as cartas de crédito emitidas por bancos de primeira linha e em país que não ofereça risco são ótimos instrumentos de pagamento. O banco emitente (ou confirmador, se houver) efetua o pagamento, à vista ou a prazo, mediante apresentação de certos documentos. Já a garantia bancária, como regra, é emitida para ser liquidada sem prova de non-performance. "É o pagamento à primeira reclamação, at first demand", explica. Assim, ao exportar uma mercadoria amparada por garantia bancária, por exemplo, no caso do comprador não pagar o banco paga de imediato.

Para ajustar contratos às opções de garantias é preciso ter em mente que as operações envolvem uma série de fatores que vão da liquidez das empresas à idoneidade do negociante, passando por circunstâncias que não podem ser previstas. Segundo Lunardi, o risco político, por exemplo, pode levar à centralização cambial, que é um fator complicador, e até mesmo a uma moratória. Pode ser provocado por desvalorização cambial acentuada ou mesmo pela troca de governo. No curso "Riscos e Garantias nas Operações de Comércio Exterior", Lunardi explica que riscos políticos "são aqueles representados pelo país e não pela pessoa do comerciante. São caracterizados por decisões governamentais e resultam no impedimento temporário de remessa de divisas para o exterior. Pode, também, implicar a suspensão da exportação de determinados bens ou serviços".

O problema é que contra o risco político não há providências a serem tomadas, exceto as de natureza preventiva, alerta. "Empresas especializadas em classificação de riscos, rating agencies, periodicamente divulgam a avaliação dos diversos países. Para tanto, fazem uma análise global do país em referência", diz.

O executivo da Coface explica que existem sete categorias para a classificação de riscos, as quais medem como os negócios são influenciados pelas perspectivas econômicas, financeiras e políticas externas de um país, com base em pontos de vulnerabilidade, clima empresarial e histórico de pagamento de uma empresa.

Informações comerciais

No caso do risco comercial, a questão é a idoneidade do comprador, sua capacidade de pagamento e também a capacidade técnica, pois há casos em que o pagamento não ocorre por erros na operação, destaca Lunardi. "A falta de capacidade técnica pode ser tão cruel como o problema do calote."

Segundo o especialista, o comerciante brasileiro tem a preocupação de analisar o seu comprador, mas não adota o mesmo cuidado em relação aos seus fornecedores. "Boa parte das empresas não busca informação sobre o parceiro comercial porque considera o custo alto, mas há, ainda, quem não sabe que existem empresas que realizam tais pesquisas", ressalta o especialista ao alertar que o "correto seria só se pensar em vender para qualquer local depois de realizar um levantamento cadastral apurado".

A avaliação de risco comercial permite uma rápida e eficiente decisão sobre formas de pagamento mais seguras, limites de crédito, prazos adequados, previsões de margens de segurança, potencial de negócios do cliente e outras variáveis que possam influir na decisão final, segundo o gerente do FBI Aduaneiras, serviço que integra uma rede internacional de agências especializadas em análise de crédito internacional.

Entretanto, Sanroman ressalta que as revoltas populares ocorridas em alguns países do Oriente Médio e norte da África não foram detectadas pelos serviços de inteligência dos Estados Unidos. Portanto, relatórios possíveis sobre análises de riscos mostram apenas como as mudanças políticas afetam as empresas. (Redação: Andréa Campos)

Fonte: Aduaneiras

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